![](http://bp2.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lJay-0KcI/AAAAAAAAAME/eeY9vFD6lJ0/s0-d/2007-03+001.jpg)
Março/Abri 2007
Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir.
Amyr Klink, navegador brasileiro
Surpreendemo-nos, habitualmente, quando o homem morde o cão. Isso deve-se à ditadura da mesmice, ao império da normalidade. Felizmente, há movimentos reaccionários que minimizam aquelas inevitabilidades. Viajar, por exemplo, é um deles. Viajamos, para alterar a nossa regularidade, à procura de surpresas.
![](http://bp0.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_pDkC-0KsI/AAAAAAAAAOE/NclQrG9PXLs/s0-d/Maroc+04+2007+187.jpg)
A inspiração surgiu via Zé Barriga. Foi quem mais se abismou com a surpresa. E disso fez jus, bisando a menção dos episódios que mais o deslumbraram.
E eu vou ao encontro desse pasmo folião, tão atraente e derradeiro como os pulos do Zamith, o vocabulário árabe do Mendonça, o bailado do Arlindo, a alegria do Murta, as camisolas do Joaquim, as águas-furtadas do Jorge, a pachorra do Menau, a chave do António, o pneu do Armando, a bateria do Marques, o alarme do Mariano, o “môr” do Luís ou a tampa do óleo da minha Pan European.
Sexta-feira, cedo, não havia muito trânsito… a não ser na ponte do Cinquentenário, em Sevilha. Ninguém se perde numa ponte. Mas, naquele dia, com tamanho tráfego, tão compacto e abundante, deixámos de nos ver uns aos outros. Um salve-se quem puder!
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lLxC-0KdI/AAAAAAAAAMM/zG9YVfgDcrk/s0-d/2007-03+018.jpg)
De Jerez a Algeciras, a via rápida deixou-nos inexplicavelmente a caminho de Tarifa. Eu já percorrera este itinerário há quase dois anos e a ligação directa existia. Afinal, todos os caminhos vão dar à ponte, mas quando o rio vai de monte a monte!
A entrada em Marrocos, por Ceuta, ali próximo de Fnideq, é um excelente caos organizado: angariadores, polícias, cambistas de ocasião, funcionários de fronteira, vendedores de droga, tudo numa roda-viva por clientes. Até é permitido tirar fotografias. E, uma imagem vale mil palavras!
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_laXC-0KqI/AAAAAAAAAN0/quRxcYVjOBc/s0-d/2007-03+164.jpg)
Ainda não havíamos percorrido meia centena de quilómetros em Marrocos, e já havia dois grupos com itinerários diferentes. Uns foram pelo centro, outros pela periferia de Tetouan. Um mapa não e o território!
Foi no restaurante azul eléctrico da imagem. Discutir o preço de uma refeição é normal em Marrocos. Fazer baixar o preço significativamente, e depois dar uma gorjeta superior ao valor do diferencial negociado, é que é surpreendente. É ser mais papista que o Papa!
Habitualmente, os guias têm um percurso padronizado que leva aos estabelecimentos dos amigos de negócio, onde o grupo de demora com os vendedores. Em Chefchaoeun, o nosso não sofreu muito desse paradigma. Porém, o nosso guia deixou-nos numa ponta da medina, uma vez que havia acordado com outro grupo uma visita sensivelmente para a mesma hora. Era o "overbooking" a chegar às agendas dos guias marroquinos...
![](http://bp1.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lOgi-0KeI/AAAAAAAAAMU/ScKeSaWmEi4/s0-d/2007-03+154.jpg)
No Hotel Parador, foi necessário discutir o preço dos alojamentos reservados. Pagámos menos do que constava no documento de reserva, valor que já era bastante favorável. Imita a formiga e viverás sem fadiga!
Numa das esplanadas de Chefchaouen, um dos empregados “pescava” os clientes assegurando ter cerveja, mas apenas podia vender chá. Fazia-o com aquela inocência dos argutos, e denunciava a atitude sem rodeios. Não existe verdadeira inteligência sem bondade.
![](http://bp0.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lVfS-0KlI/AAAAAAAAANM/NnEkggu9eXo/s0-d/Marrocos2007+087.jpg)
Em Meknes, passa quem mais apita. O alarme da moto do Mariano, que se ligava a espaços, contrariou a ordem de paragem do sinaleiro, que acabou por mandar parar os outros veículos e deixar-nos passar. Quem não chora, não mama!
Na Bab Al Mansour, um polícia autorizou o atravessamento do traço contínuo e permitiu o estacionamento de 14 motos, mesmo em frente da porta mais famosa de Meknes. Devia ser a tal “atenção ao cliente”!
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_045k_O--I/AAAAAAAAAOM/e5IDT43Il5E/s0-d/Marrocos2007+121.jpg)
Na imagem em que o branco apenas nos rodeava, ainda não nos caía em cima. Mal saímos da Floresta de Cedros começou a nevar. Estávamos no final de Março, eram 7 da tarde, e o termómetro marcava um grau negativo. Íamos para o deserto, era o que estava previsto. Lá como cá, Março marçagão, manhã de Inverno, à tarde verão…!
Os recepcionistas do
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lT3C-0KjI/AAAAAAAAAM8/_xGUAtRjBto/s0-d/2007-03+217.jpg)
Às vezes, confunde-se conhecimento com sofisticação e tecnologia. Felizmente, a electricidade não tinha segredos para o electricista marroquino que desligou o alarme da moto do Mariano em dois minutos. Mais vale burro vivo, que sábio morto!
O deserto tem muitas pedras, terra e sobretudo areia. Do acampamento,
![](http://bp2.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lQay-0KfI/AAAAAAAAAMc/YDzQppNomxk/s0-d/2007-03+189.jpg)
Supõe-se que Marrocos é um país pobre. Dizia-se que se passava fome. Contudo, depois de um ‘couscous’ bem recheado de carne, no fim do jantar no albergue do deserto, surpreendeu-nos um cabrito gigantesco. Não há fome, que não dê em fartura!
Em todas as refeições, lá estavam algumas garrafas de vinho. Ficámos admirados por
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lEvC-0KbI/AAAAAAAAAL8/-IwoSyUwHd4/s0-d/2007-03+289.jpg)
Deserto que se preze, não tem nada nem ninguém. No Erg Chebbi, porém, um dos mais conhecidos desertos marroquinos, o trânsito fazia pasmar. Havia grupos de motos 4, jipes em caravana, Peugeots, Mobylettes, e até um Mercedes enterrado na areia. Um deserto… a tradição já não é o que era!
É do senso comum, considerar que deserto é uma porção de terreno onde não há água. Mas o que vimos à chegada, era um lago imenso a escassos
![](http://bp2.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lYfy-0KmI/AAAAAAAAANU/lZp76h30LSE/s0-d/2007-03+375.jpg)
O Erg Chebbi tem riqueza mineral que é simultaneamente arqueológica. Os vendedores de fósseis, faziam-no precisamente ao lado de uma jazida a céu aberto. Não sei se vendem muito, sei que alguns de nós se abasteceram na fonte. Cego, é o que não quer ver!
Enquanto há quartos vagos, vão-se ocupando, independentemente da respectiva dotação. Quando chegámos ao albergue do deserto, não havia quartos duplos e individuais para todos. Alguns casais dormiram em quartos quádruplos. Há sempre lugar para mais um!
![](http://bp1.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lRJi-0KgI/AAAAAAAAAMk/gBSw8XlrXGI/s0-d/2007-03+334.jpg)
Fomos de moto. Mas em cerca duzentos quilómetros abanámos mais do que em toda a viagem, tal foi a tempestade de areia que nos sobressaltou entre Boulmane du Dades e as montanhas do Atlas. Por tal, almoçámos de lenço na cabeça e durante a refeição caíram alguns candeeiros. Não podemos dirigir o vento... mas podemos ajustar as velas!
![](http://bp0.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lRwS-0KhI/AAAAAAAAAMs/r2l0pIp-2zo/s0-d/2007-03+413.jpg)
Na praça El Fna, em Marraquexe, ouvem-se estórias, exibem-se cobras, faz-se teatro, vende-se água a copo. Destacava-se na altura uma mesa, que expunha centenas de dentes (o que está mais branco) e uma dezena de dentaduras (mesmo ao lado dos dentes). Aqui há tudo, como na farmácia!
![](http://bp1.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lTNi-0KiI/AAAAAAAAAM0/4IuEDx7jq6Y/s0-d/2007-03+461.jpg)
Temos fama em demorar o almoço. Lá, tal como cá, a tradição ainda é o que era. Duas horas e meia para manjar peixe. A surpresa veio, porém, do trânsito de Casablanca, onde levámos mais de uma hora para deixar a cidade. A pressa é má conselheira!
Buzinar em Marrocos, é dizer “estou aqui!”. Mas não expressões iradas, apenas um coro de
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lZoC-0KoI/AAAAAAAAANk/YfLqiFJN2Vg/s0-d/2007-03+511.jpg)
Em Tanger, aproveitei para substituir a lâmpada de médios que estava fundida. Não paguei o material nem o serviço. Estranhamente, a nova lâmpada parecia não iluminar o chão à minha frente. Quando a mandei substituir, além de ter visto que não tinha quaisquer características gravadas, verifiquei que metade estava escurecida, exactamente a que devia iluminar o solo. Não há almoços grátis!
Já no regresso, e após a saída do barco em Algeciras, todos já haviam traçado o seu destino,
![](http://bp0.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_lZJS-0KnI/AAAAAAAAANc/T3vW_S2AZ8E/s0-d/2007-03+532.jpg)
No entanto, Impunha-se saber por onde é que tinham andado os restantes comPANheiros, e as respostas à mensagem de boas-vindas que enviei a cada um.
Diziam o seguinte:
- Chegámos bem, com alguma chuva...
- Desde o Porto, tudo OK!
- Houve n alternativas. Eu fiquei na Isla Canela.
- Não estou a ver de quem é este sms mas se é de alguém das Pans, então cheguei bem. Até vim só desde Espanha…
- Obrigado pelo sms, obrigado pelo excelente viagem que nos proporcionaste. Está tudo bem.
- Ontem fiquei no Algarve. Só hoje cheguei a Lisboa. Um cozido à portuguesa, não tem nada a ver com uma tajine. Já tenho saudades.
- Só agora vi o teu sms. Só fiz asneiras no trajecto, mas cheguei bem.
- Cheguei bem cá a cima.
![](http://bp3.blogger.com/_Wr4XnVssDco/R_o5_y-0KrI/AAAAAAAAAN8/sUTweg_nXag/s0-d/Marrocos2007+531.jpg)
"Tudo está bem, quando acaba bem".
o relato desta viagem pode ser lido em
http://www.rituais.com/Downloads/Marrocos2007-Carlos_Cordeiro/Marrocos2007-Carlos_Cordeiro.pdf
A maioria das imagens filmadas são da autoria de Lena Marques, a nossa realizadora de eleição. Há igualmente outras imagens - inclusivamente algumas das fixas que marginam o texto - que são da autoria dos participantes mencionados na 1ª parte do vídeo.
Música: Oliver Shanti & Friends. Álbum: Alhambra