segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Holanda 1987 - Regresso às Origens - II De Lausanne a Queluz




II – DE LAUSANNE A QUELUZ

O texto seguinte foi publicado no número 350 da revista “Motojornal”, em Agosto de 1994, há mais de três décadas por tanto. Foi legendado com oito fotografias reproduzidas a partir de slides que nunca me foram devolvidos. Felizmente sobraram outras cem imagens da viagem. Bem como o respectivo texto. É esse texto que reproduzo a seguir, bem como uma ou duas fotografias captadas da publicação. Assinalo também alguns lugares que pela novidade, beleza ou originalidade se destacaram na viagem. Esta é a segunda parte da narrativa.

A CAMINHADA

No dia seguinte, a chuva mantinha o ritmo do dia anterior. Com os fatos de chuva novamente vestidos pusemo-nos a caminho de Basileia. Com a entrada na Suíça as condições do piso pioravam, especialmente nas estradas de montanha.
As curvas sucediam-se e a Honda escorregava lentamente. Nem as belas paisagens suíças distraíam da sinuosidade da estrada e da degradação do piso. As paragens tornaram-se frequentes e, numa delas, fomos mesmo obrigados a fazê-lo junto a uma vacaria onde o cheiro da bosta ultrapassava em muito o da humidade.
Apesar dos fatos de chuva serem impermeáveis, a jornada foi bastante desagradável até ao parque de campismo de Vidy, em Lausanne, que alcançamos por volta das quatro horas da tarde e onde deixámos uma mensagem na recepção dirigida aos nossos companhei-ros. Só antes de jantar nos encontramos à entrada do parque. Perdidos uns dos outros, todos optamos por entrar em França, já que o alojamento era mais barato. Enquanto nós parámos logo a seguir à fronteira, eles optaram por procurar um parque de campismo, mesmo apesar da chuva que persistia. Acabamos por ficar a alguns quilómetros uns dos outros.
Já que a intempérie se mantinha, montamos as tendas ainda com os fatos de chuva vestidos e só os dispensamos à noite no restaurante. A foto que o Manuel ou a Cila nos tiraram, onde mais parecemos extraterrestres, diz bem da necessidade de armarmos os igloos protegidos da chuva e só depois os transportarmos para a relva.
A manhã surgiu ensolarada, convidando ao passeio. Aproveitamos para visitar o castelo de Saint-Maire, a igreja de Saint-François, a Universidade – que conta com um museu de história natural e uma galeria de arte – e ainda o porto de recreio.
À tarde, desposemo-nos a percorre a pé a parte baixa da cidade. Eu conhecia vários pontos de interesse, visto ter sido esta a terceira vez que estava em Lausanne e, por tal, podia servir de guia. Percorremos demoradamente – levou a tarde toda – a margem do lago Lemans, apreciando as belas casas e jardins lacustres e, ao fim de alguns quilómetros estávamos cansadíssimos. Sobretudo eles, que haviam passado uma noite mal dormida – choveu sempre -, estavam estafados. 
A meio da caminhada começou a chover e as pernas passaram a queixar-se. No final do dia reconhecemos termos andado cerca de oito quilómetros a pé, o que não estava minimamente nos nossos planos. Ainda assim ainda pudemos apreciar as instalações olímpicas e as ruínas romanas existentes junto ao lago na área de Vidy, onde ficava o parque de campismo. Mais uma vez a limpeza e o cuidado com a preservação dos edifícios da cidade e das ruas da cidade, deixaram uma sensação de mágoa quando nos lembrámos dos nossos burgos.
A esplêndida situação do parque de campismo de Vidy, enquadrado por uma extensa zona verde junto do lago, permitiu adormecermos embalados ao som das pequenas vagas que batiam nas margens ao longo de uma noite calma.
A manhã surgiu soalheira. Saímos cedo, rumo a Montreux, pela estrada que percorre a margem do lago, entre o azul do céu e o verde das colinas. Depois de uma breve paragem no castelo de Chillon, dirigimo-nos a Montreux onde estacionámos junto ao casino local.
À tarde, já no regresso a Lausanne passamos por Vevey, sede da conhecida Nestlé, e aventuramo-nos colina acima, por uma estrada secundária, entre mansões de montanha de onde desfrutamos um panorama ímpar sobre o largo e respectivas margens. À medida que nos aproximávamos de Lausanne o céu tornar-se-ia mais escuro, como que prometendo nova chuvada para o dia seguinte.


CAMPISMO NO ASFALTO

Aproveitamos uma aberta, arrumamos as tendas e deixamos Lausanne percorremos a estrada nacional que leva a Genève, sempre à beira do lago, onde parámos para beber um café, por sinal o mais caro da jornada - que rondou os duzentos escudos – apesar de ter sido tomado á vista do espectacular “repuxo”  que, em estilo ‘geiser’, leva água a algumas dezenas de metros na vertical. E nem por isso, havia desperdício, uma vez que era posteriormente reaproveitada. Diga-se, em abono da verdade, que a Suíça na altura detinha o record mundial de abastecimento de água sem problemas.
A próxima etapa levar-nos-ia até Platja de Pals, junto a Barcelona, onde chegámos por volta das duas da manhã. O vento forte que se fazia sentir na auto-estrada próximo de Perpignan, ainda em França, obrigou-nos a rodar lentamente e a um esforço adicional para manter as motos a direito.
Mesmo recorrendo ao sistema da perna flectida para o lado do vento – prática que o João me havia ensinado anos antes quando passamos por Tarifa – tanto a CB como a GPZ dificilmente rodavam perpendiculares à estrada, isto durante umas boas dezenas de quilómetros.
Depois de termos jantado próximo da fronteira de La Junquera, mas já numa área de serviço na auto-estrada catalã, dirigimo-nos ao parque de campismo Cyplesaa, em plena Platja de Pals, onde nos esperavam dois guardas, bem bebidos, que nos queriam obrigar a montar as tendas – igloos, sem espias – no asfalto, fora do parque. Alguma negociação permitiu-nos passar as tendas para um espaço relvado dentro do complexo e, finalmente, descansar.
Nessa etapa percorremos cerca de 800 quilómetros, com chuva, vento e mais tarde um calor abrasador. As tampas do motor da CB apresentavam já uma coloração acinzentada e os cabos do acelerador e da embraiagem tornavam-se menos operacionais.
Dedicamos o dia seguinte à visita a Pals, uma pequena localidade situada a alguns quilómetros da costa, uma joia do património arquitectónico catalão, cuja traça típica dos edifícios estava rigorosamente conservada. Além de possuir uma cerâmica singular, a par do artesanato, o facto de apenas ter ruas para pedestres emprestava-lhe uma tranquilidade especial. A estrada de acesso era pitoresca e de bom piso.

SOL E CHUVA

A etapa seguinte previa terminar em Guadalajara. A auto-estrada até Saragoça foi percorrida rapidamente debaixo de um calor tórrido. As paragens tornaram-se obrigatórias uma vez que a ventoinha do radiador da GPZ começava a queixar-se as tampas de motor da CB já queimavam.
A chegada ao hotel Pax, bem situado mas sem condições, deu-se por volta das sete da tarde, quando o céu se começava a toldar. De manhã, à saída, os fatos de chuva voltaram a ser necessários. A montagem das malas Krauser já foi feita à chuva. Nessa altura, os sacos-cama e a tenda também regressaram à bagageira do Uno.
Mais tarde, o sol reapareceu, o que permitiu darmos alguma folga aos fatos de chuva. Mas não foi por muito tempo. Atravessar Madrid foi o cabo dos trabalhos: uma valente carga de água abateu-se sobre a capital espanhola e obrigou-nos a parar de emergência por baixo de uma ponte, uma vez que os fatos estavam ligeiramente abertos mas a chuva entrava abundantemente. Por pouco, dada a precipitação da manobra, com a viseira e os retrovisores embaciados, quase fomos abalroados por um camião.

MALDITOS PNEUS

À saída de Madrid fazia sol. Este acompanhou-nos até ao princípio da serra de Gredos, assim como nos perseguia, um pouco mais atrás, uma enorme e ameaçadora nuvem negra. Logo após termos parado numa área de serviço da serra – aquela onde habitualmente reabastecíamos entre Madrid e a fronteira – percebemos que o devíamos ter feito com mais rapidez.
O sol desapareceu num instante e deu lugar à colossal nuvem negra. Vestimos os fatos de chuva, dissemos ao Manuel e à Cila para irem andando e arrancamos no intuito de ultrapassar a chuvada que devia estar próxima. E começou a chover.
À medida que íamos trepando a serra a chuva aumentava e a velocidade das motos diminuía. O Uno foi-se distanciando. As condições do piso pioraram e as curvas passaram a ser feitas cuidadosamente. A bagagem, mesmo reduzida ao saco de depósito e às duas Krauser, não permitia o equilíbrio habitual das motos. A continuação da chuva estava a prejudicar significativamente a condução.
Praticamente no sítio mais alto da serra, a GPZ foi para a frente e distanciou-se ligeiramente. Logo após uma esquerda larga, não sem antes ter sentido uma escorregadela da Honda, deparei com a Kawasaki a deslizar com a carenagem pelo asfalto.
Pouco depois, dei com o João a levantar-se lentamente, mas a Paulinha, de rabo no chão, não parecia poder mexer-se. Parei a CB com alguma dificuldade na berma junto ao precipício do lado direito da estrada e fomos ver o que se passava.
Abatido, o João bramava: malditos pneus (Yokohama, de nylon…)! Entretanto, a Paulinha começava a sentir dores no tornozelo. A Kawasaki tinha a manete da embraiagem partida, o saco de depósito havia saltado e uma das malas estava raspada bem como a carenagem.
De repente, a chuva parou. O tornozelo da Paulinha inchava. Entretanto, pararam alguns carros e, de um deles alguém se intitulou médico e, pouco depois, diagnosticou que a Paulinha teria algo partido. Do Uno, nem sinal.
Amavelmente, o médico espanhol prontificou-se a levar a Paulinha até ao hospital mais próximo, em Navalmoral de la Mata, a cerca de 40 quilómetros do local do acidente, no sentido de Madrid. O médico e um amigo que com ele viajava eram caçadores e voltavam de uma caçada, pelo que o interior do Renault5 contava, além de uma ferida e de outra não menos abatida, com uma quantidade de peças de caça. Eu cheguei a pensar que o sangue que andava por ali era da Paulinha…
Depois de tentar solucionar o problema da manete de embraiagem recorrendo à fantástica fita isoladora, inventariámos rapidamente os outros estragos da moto. Não eram importantes, podíamos continuar. Logo após, o sol voltou o tempo aqueceu. De tal maneira que a fita isoladora começou a amolecer e a manete chegou já pendurada ao hospital.
O hospital de Navalmoral de la Mata era uma espécie de s. Francisco Xavier em ponto pequeno ma mostrou-se eficaz. Entretanto, a Pauinha foi assistida e confirmou-se que tinha o tornozelo partido e que seria necessário engessá-lo. Depois, contactámos a GESA, Assistance, de Barcelona, que rapidamente se inteirou do estado das pessoas e do veículo e pôs à nossa disposição um táxi para transportar a Paulinha para Portugal.
Nesta altura, o Uno já estaria próximo da fronteira portuguesa, mas após duas horas à nossa espera, decidiram voltar para trás à nossa procura. Entretanto, o táxi chegara ao hospital e visivelmente bêbado teve ainda a lucidez suficiente para passar o serviço para um colega.

A TEMPESTADE


Por volta das 7 da tarde, surgiu a Paulinha com o pé engessado e numa cadeira de rodas, à porta do hospital, pronta para regressar a casa. O táxi saiu primeiro, a Honda e a Kawa – esta “armadilhada” com nova fita isoladora e com uma espécie de tala – seguiram-no.
No início da serra de Gredos, e dada a previsibilidade de noa chuvada, parei para vestir o fato de chuva. A paragem foi suficiente para que o táxi e a Kawa se tivessem afastado. Foi também o tempo necessário para que as nuvens negras que novamente nos acompanhavam, voltassem a produzir uma tempestade de tal ordem que não tenho memória de uma chuvada daquelas.
Próximo do local do acidente, o vendaval e a chuva transformaram-se numa tromba de água. A dada altura, já com a visibilidade nula, e praticamente a “passo de caracol”, fui obrigado a parar em plena faixa de rodagem. Eu e todos os restantes veículos que circulavam naquela ocasião.
Mantive o motor a trabalhar, não fossem as velas pregar-me alguma partida, mas foi com dificuldade que consegui manter a moto na vertical, tendo mesmo de recorrer ao descanso lateral para não a deixar cair. Durante um minuto pareceu-me que o mundo iria acabar com uma inundação. E, logo eu, estava na primeira fila!
E o João…? Que era feito dele? Sortudo, havia conseguido, tal como o táxi, atingir praticamente o final da serra – eles não tinham parado - pelo que não teve a necessidade de parar, embora tenha apanhado, tal como eu, a “chuvada da vida”.
Mais à frente, foi a vez de encontrar o Manuel e a Cila, que já tinham feito cerca de 200 quilómetros desde a fronteira. O escape do Uno, praticamente partido, deixava já escapar o som de um Fórmula 1, barulheira que os seguiu no regresso a casa.
A partir da fronteira do Caia, depois de uma sopa especialmente servida à Paulinha ainda dentro do táxi, percorremos os derradeiros quilómetros que nos separavam de Queluz, não sem antes termos experimentado alguns encandeamentos e manobras perigosas por parte dos nossos conterrâneos e sofrido mais 100 quilómetros debaixo de uma chuva miudinha que só nos deixou cerca da uma da manhã, finalmente, à porta de casa.

EPÍLOGO


Percorrer cerca de 7000 quilómetros, em 16 dias, afigurou-se uma tarefa desgastante e deixou-nos uma sensação nostálgica quanto ao que poderíamos ter aproveitado se tivéssemos mais tempo disponível. Ficará, no entanto, para outras andanças.´
As condições climatéricas, mais de 30 graus centígrados em Espanha contrataram com a extrema humidade de Haia e com as chuvadas de Barcelona, Madrid e Gredos. Contando com a chuva fraca mas ininterrupta na Alemanha, era impossível não chegarmos a casa que nem “pintos”. Molhados, mas felizes.
Tínhamos terminado mais uma viagem, “mais uma corrida”. Uma “corrida“ que, entre outros, teve o condão de nos mostrar outras realidades, outras maneiras de fazer, diferentes maneiras de pensar o quotidiano. Foi, digamos, didáctico e enriquecedor, mais não seja, pelo facto de ter permitido mudar, alterar rotinas e, inclusivamente, diversificar s temas de conversa, bem como o teor das discussões.
Podemos perceber melhor os nossos próprios comportamentos, quer individuais quer enquanto grupo e, desta feita, exprimir e modificar posições que antes se mostravam radicais. A “viagem”, nesta perspectiva, teve um valor acrescentado que, por enquanto, é tributado apenas na memória dos protagonistas e fará parte da nossa “história particular”. Por outro lado, o “estar lá” foi sinónimo e justificação de, “eu sei”, um pouco à imagem do, “ver para crer”.
Tudo o que aconteceu, vimos, fizemos, visitamos e sentimos juntou-se à memória de tantas outras ocasiões que, ainda hoje, e faço votos que por muito tempo, preenche os momentos mágicos que partilhamos com aqueles cuja paixão é também viajar de moto.
Porquê, de moto? Esta poderia ser uma nova “viagem” teórica à causa das coisas. Fica para outra oportunidade. Também em jeito de tributo a essa paixão, dedico esta narrativa, especialmente aos que me acompanharam numa das mais bonitas aventuras em que participei.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Holanda 1987 - Regresso às Origens - I De Queluz a Lausanne



O texto seguinte foi publicado na revista “Motojornal” nº 350, há quase três décadas. Foi legendado com oito fotografias reproduzidas a partir de slides que nunca me foram devolvidos. Felizmente sobraram outras cem imagens da viagem. Bem como o respectivo texto. É o texto da primeira parte que reproduzo a seguir. Assinalo todavia alguns lugares que pela novidade, beleza ou originalidade se destacaram na viagem.

I – De Queluz a Lausanne

Estavamos em plena Primavera de 87 e a pequena carenagem da Honda CB 750 F2 já estava montada. Aguardava já pelo Verão, pelo regresso da moto à origem. A moto original, uma velha CB 750, comprada em ‘4ª mão’ ao Manuel João, havia “dado as últimas” no início do ano anterior. Nessa altura, o custo e a dificuldade de conseguir sobressalentes para as motos era por demais evidente. 
Uma das hipóteses de minorar esse custo era comprar uma moto em segunda mão e aproveitar as peças que estivessem em melhor estado. Sendo estrangeira, mais barata seria. Por tal, comprei uma igual a um holandês com o qual ainda hoje mantenho uma especial relação de amizade.

Programada há muito, a viagem constituiria, uma vez mais, um desafio à evasão que promoveria novas reciprocidades. Era altura de ir mais além, de ultrapassar destino já atingidos – já havíamos estado em Paris – que deixam sempre vontade de novamente nos “fazermos à estrada”.
Porém, quando no dia 31 de Agosto de 1987 chegámos a casa dos pais do João, por volta da uma da manhã, um táxi espanhol tinha-se juntado à caravana. Ora, a 14 desse mês, apenas a Honda CB 750 F2, a Kawasazi GPZ 900 e o Fiat Uno, haviam saído de Queluz. Esfomeados, molhados, feridos e cansados, pensamos, “podia ter sido pior”, como é costume na nossa terra.

Depois de, no ano anterior, visitarmos o sul de França e o norte de Espanha numa viagem plena de peripécias, resolvemos convidar desta vez o João e Paulinha (GPZ 900) e o Manuel e a Cila (Fiat Uno), para nos acompanharem à Holanda, numa visita aos nossos amigos holandeses Roel e Pascalle.
Se já gostávamos de viajar de moto, a amizade firmada anos antes, quando lhe propus a compra da CB F2, para além dos constates apelos para que os visitássemos, fizeram com que aceitássemos o convite. Todos os conhecíamos. Por isso, todos aceitamos. Só o Manuel e a Cila viajariam de carro.

Esta ‘coisa’ de viajar de moto é muito gira, sobretudo até ao momento em que é preciso montar a “tralha”. O secador, os (diversos) pares de sapatos e o resto do guarda-fato da pendura, fazem parte do puzzle com que alguns de nós se defrontam pouco antes da partida.
Enfim, este ano, a tarefa iria ter o apoio de um carro, pensei. Mal, já que se, por um lado, a diferença de andamento foi notória, especialmente quando o trânsito aumentava, por outro, transportar a bagagem da moto na mala do carro não resulta quando nos perdemos uns dos outros…

RUMO A BURGOS


A tradição manteve-se, quer no dia anterior, quer no dia de partida. Na noite anterior, teríamos a visita de seis holandeses. O irmão do Roel  e os amigos, que viajavam numa Yamaha RD 350, numa BMW 650 e num Opel Kadett, tinham vindo de férias a Portugal.
Claro está que a noite foi até às “tantas”. Aliás, na noite anterior à partida já era prática habitual aparecer alguém, nem que fosse apenas para assistir à montagem da bagagem. Era raro deitar-me antes da uma da manhã. Para quem queria sair cedo e aproveitar o ar fresco daquela hora, não era definitivamente o horário ideal para adormecer…
Por outro lado, no dia da partida teríamos o habitual calor sufocante espanhol por companhia, especialmente ao atravessarmos a região de Cáceres, onde almoçamos. Mantinha-se também a aridez da paisagem, interrompida por pequenos povoados, porém desertos de pessoas a meio do dia.
Com a aproximação do final da tarde, a temperatura baixou ligeiramente, pelo que passamos a sofrer menos quando era preciso esperar pelo Uno. Chegámos ligeiramente cansados ao hotel Ciudad de Burgos, situado fora da cidade, mas próximo da auto-estrada para Irun, por volta das nove da noite…


A BOMBA

Em Burgos, cerca de duzentos quilómetros nos separavam do local de encontro, aprazado para San Sebastian, com os nossos amigos holandeses, nessa altura em férias por terras espanholas. Percorremo-los devagar aproveitando para apreciar a bela paisagem basca, pelo que chegamos com uma hora de atraso sobre o previsto.

Acima dos Pirenéus é habitual cumprir horários. Mais abaixo, não tanto. Nós teríamos esperado até sermos velhos, mas acima dos Pirenéus toda a gente quer ser novo durante bastante tempo. E não esperam além do previsto. Por isso, não estava ninguém no quiosque que fica no início da marginal da cidade.
Avançamos para o parque de campismo, onde estariam os nossos amigos holandeses. Aí, conhecemos a sua última aquisição, uma BW K100 que, apesar dos seus escassos dois mil quilómetros, já “babava” óleo da suspensão dianteira… é isso que comentamos na altura em que a foto foi tirada.

Almoçamos no restaurante do parque de campismo. Foi quando a televisão espanhola deu a primeira notícia sobre o rebentamento de uma bomba perto do quiosque que fica no início da marginal de San Sebastian. Esse mesmo, aquele onde havíamos combinado encontramos os nossos amigos holandeses…!!
Não ganhamos para o susto. Mas desconhecíamos que a “procissão ainda ia no adro”. Marcamos novo encontro para Maastricht, cidade onde moravam, mais conhecida devido a ter sido lá a assinatura de um dos acordos mais importantes da Comunidade Europeia.

Com a tarde a aquecer, atravessamos a cidade basca por entre um trânsito caótico. Perto da fronteira, as filas de carros aumentavam à medida que nos aproximava, da fronteira. Alguns quilómetros antes, o trânsito chegou a parar na auto-estrada. E, a partir de certa altura passou a fazer-se por apenas uma via.

A Guarda Civil havia formado apenas uma fila por onde circulam carros motos e camiões. Todos eram obrigados a parar. Mirados de alto-a-baixo por um oficial, olhos nos olhos, e ladeados por um pelotão de metralhadoras aperradas, sustivemos a respiração até passarmos a fronteira. 

ALI VÃO ELES…!

Entramos em França pela auto-estrada. A circulação automóvel era imensa a coincidir com o movimento sazonal dos franceses e dos emigrantes, tendo aumentado à medida que nos aproximávamos da estrada nacional. 

Ainda fomos obrigados a fazer uma paragem numa área de serviço para verificar o consumo anormal do Uno que estava a gastar tanto como um Ferrari. A razão estava num tubo que não tinha aguentado o ritmo e se havia soltado. O João resolveu rapidamente o problema.

Pouco depois, o João aproveitou um período de maior fluxo de adrenalina e foi para a frente durante alguns quilómetros. Nós fomos avançando mais devagar e deixamos de ver a GPZ durante bastante tempo. Para garantir a nossa paragem, o João encostou ao rail em plena auto-estrada, esperando que daí a pouco nós aparecêssemos.
Mas quem parou não fomos nós, foi uma carrinha da polícia francesa, cujos agentes lhe perguntaram o que estava ali a fazer e o alertaram para o facto de ser expressamente proibido parar naquele sítio. - Estou à espera de amigos! – disse o João pouco antes de nos ver aparecer ainda longe. – Ali estão eles…! – salientou ao ver-nos aproximar. – Aqui estão… ali vão eles…! – disse, estupefacto, ao ver-nos desaparecer lentamente no horizonte depois de termos passado por eles e pela polícia. “Com que então, à espera de amigos…?!, ponha-se a andar daqui e depressa porque a multa é muito cara para si!”, foi o comentário dos agentes. Assim fizeram. O João e a Paulinha tinham-se safado desta vez, e pouco depois, já estávamos juntos de novo.
Só no parque de campismo de Saintes pudemos discutir o sucedido e alertar o João para o facto de ser preciso andarmos juntos o mais possível de modo a não nos perdermos. Hoje, o episódio é mais um tema de conversa quando começamos a falar de viagens de moto. Como já chegamos tarde ao parque de campismo, fomos obrigados a cozinhar sopas e a jantar alimentos frios, uma vez que no pequeno bar ainda aberto não havia outra alternativa.

A CIDADE FANTASMA


No dia seguinte também não houve alternativa ao calor e aos “engarrafamentos”. Quer na estrada nacional, quer na auto-estrada, o tráfego era intenso, sobretudo perto de Paris. A época de férias estava no auge e da capital francesa saiam carros, camiões, motos, caravanas, especialmente rumo a sul.

Foi uma etapa particularmente penosa quer pelo calor que se fazia sentir, quer pelas paragens à espera do Uno. Chegamos a Lille ao entardecer e deparamos com uma cidade praticamente sem movimento, cujas lojas, cafés e restaurantes estavam fechados. O cenário era igual nos arredores.
Aliás, não eram apenas as lojas que estavam fechadas, os bares por onde passamos também não estavam abertos. Desta vez, fomos mesmo obrigados a recorrer ao fogão de campismo e a umas míseras salsichas que, todavia, se constituíram como excelentes petiscos naquela noite. Pudera!

DROGA, BÊBADOS, CHUVA e MINIATURAS

De manhã, foi demorado atravessar a fronteira franco-belga, sobretudo a partir do momento em que alguém disse que o nosso destino nesse dia era Amesterdão. “Amesterdão, logo droga”, devem ter pensado os polícias. O resultado foi uma revista detalhada às nossas bagagens, que até envolveu o pacote de cigarros que levávamos. Uma boa meia hora perdida, para nada!
Depois de almoço, o tempo começou a “fazer caretas” e pela primeira vez – que não seria definitivamente a última nesta viagem – vestimos os fatos de chuva. Atravessamos Roterdão com nuvens negras no horizonte e chegamos a Haia já com a chuva a bater nas viseiras.
O parque de campismo de Ockenburg era excelente. Tinha praticamente lotação esgotada e os melhores lugares já estavam ocupados. Por isso, apenas conseguimos montar as tendas num terreno árido, onde tivemos por “vizinhos um grupo de idiotas alemães. 
Além de nos confundirem com polacos – provavelmente devido ao “P” aposto nas motos e no carro – tinham como entretém grades de cerveja e esvaziar o respectivo conteúdo. Nem com uns berros valentes à noite deixaram de fazer chinfrim.
Arrefeceu muito durante a noite. No dia seguinte, ainda enregelados, demos uma pequena volta pela capital holandesa e paramos no Parque Madurodam, onde numa área ao ar livre se podem apreciar diversas miniaturas de monumentos holandeses, enquadrados num cenário construído à escala.
E não são apenas monumentos holandeses, também há réplicas da igreja de Notre Dame de Paris e do Parlamento inglês. O ambiente era o de um parque temático actual, com muitas crianças e gente de todo o mundo. Foi a primeira vez que ouvi falar hebreu, depois de ter reparado em três amigos cuja fisionomia não podia ser outra…

OS HOLANDESES E A HOLANDA


Foi aqui, em Haia, que tivemos o primeiro contacto com a profusão de bicicletas que percorriam as ruas planas e rectilíneas. Desde as “velhinhas” até às mães com os filhos à pendura, praticamente toda a gente utilizava a bicicleta para se deslocar. Contava-se, a propósito, de um projecto da edilidade que visava disponibilizar bicicletas gratuitamente para utilização de qualquer pessoa.

Tivemos ainda oportunidade de passar por Scheveningen, parar no passeio pedestre que vai ao longo das praias e observar a diferença de cenário e sobretudo de clima que contrasta com as nossas praias. Em pleno Verão, não fomos capazes de tirar os blusões…
De tarde, a chuva voltou a aparecer e permaneceria durante toda a noite. Jantámos cedo num restaurante francês – uma vez que a cozinha holandesa não tem tradição – mas cuja comida se assemelhava muito à nossa. Recordo ainda uma “atravessadela” numa rua de Haia devido à chuva molha-tolos que persistia.
Mas a Holanda não é diferente só no capítulo gastronómico ou do clima. São, também, as influências americanas e das diversas comunidades imigrantes que permitem aos holandeses uma maneira de estar e de comunicar assaz cordial e interessada. O facto de falarem fluentemente inglês, francês e ou alemão, além de outras, como espanhol ou italiano, faz com que a comunicação com estrangeiros seja fácil.
Também a maneira de ser e fazer dos estrangeiros, pelo menos os do sul, é para eles senão exóticas, pelo menos muito curiosas, sobretudo as relacionadas com a subversão das regras. Porém, a tradição nacional não apresenta aparentemente tipicidades marcantes. Daí, talvez, a grande abertura para tudo o que é novo, diferente e estranho.
Mas a Holanda não é só isto. É, também, diques e moinhos, a planura doa campos, os prados e as flores, as vacas e o cheiro a bosta, os canais, a inexistência de “engarrafamentos”, a eficácia da sinalização viária, a qualidade geral dos produtos. E a segurança passiva, as vivendas com paredes revestidas a tijolo pequeno em muros, os parques ecológicos, as lojas de batatas fritas e maionese, os inúmeros museus, as cores garridas das roupas, a cerveja, e muito mais. E, claro, as motos.
Nesta altura, o panorama motociclístico holandês vivia ainda uma clara influência japonesa e alemã. Para viajar, usavam sobretudo motos BMW, embora também nos tenhamos cruzado com muitas máquinas japonesas.Poucos anos mais tarde, particularmente a partir de 92, começaram a ver-se cada vez mais Harleys e Ducatis.

Mas a Holanda “é” também neve, frio, vento e chuva, quase sempre, céu cinzento e ameaçador, cafés especialmente ligados ao tráfico de droga, gangs. Os horários são rígidos e a concorrência comercia é agressiva. As normas são espartanas e a lei é omnipresente. Há diferenças regionais e económicas entre comunidades étnicas. 
Não foi obviamente uma semana na Holanda que permitiu esta análise. Nesta ocasião, apenas foi possível perceber algumas facetas que posteriores contactos e leituras confirmaram, completaram ou desmentiram.

MAASTRICHT


Com tudo isto por bagagem, seguimos viagem até Breda onde, pela primeira vez, visitamos uma igreja protestante, cujos Interiores austeros despidos de ícones mostravam uma faceta diferente da atitude religiosa.
Próximos do fim do dia, a F2, a Ninja e o Uno percorreram os últimos quilómetros que nos separavam de Maastricht. Só próximo da cidade se quebrou a monotonia da paisagem à vista das únicas elevações do país, podendo dizer-se que quer der um salto em Masstricht poderá ver Amesterdão…
A cidade é capital da região de Linburg, que abrange igualmente algumas zonas da Bélgica e do Luxemburgo Percorrida pelo rio Maas e polvilhada de florestas, esta região respira ainda ar campestre. Extensas quintas dominam a paisagem, onde a agricultura e a criação de gado, a par da pequena indústria e do comércio caracterizam o tecido produtivo da região.
Conforme combinado, telefonamos ao Roel do primeiro bar que encontramos ao chegar à cidade. Poucos minutos volvidos surgiu a BMW que seguimos a caminho da casa dos pais da Pascalle. Aguardava-nos uma bela casa de dois pisos – ocupada pelos nazis na Segunda Guerra – com um bom jardim e uma grande garagem.
Os pais da Pascalle ofereceram um dos quartos da casa ao Manuel, e à Cila (que estava grávida) e nós ficamos na pequena “casita de bruxas”, a tal outra casa, estranha mas engraçada onde viviam os nossos amigos holandeses.
Antes de jantar tivemos ainda a oportunidade para ao estilo reunião de família, conversarmos com a família Scheren-Toulkens (apelidos dos nossos amigos) sobre a viagem, sobre Portugal e os portugueses e, claro, sobre as motos, sobretudo do regresso da F2, olhada com nostalgia pelo antigo proprietário. A F2 regressava às origens.
Saímos para jantar num restaurante grego com os inseparáveis amigos do Roel, Jerome e Getty. A escolha do restaurante teve em conta o facto de ser o que servia comida mais parecida com a nossa, mas que tinha a particularidade do preço ser discutido no fim da refeição, uma vez que ninguém tomava nota do que tinha sido trazido para a mesa…
No dia seguinte demos um passeio pelos arredores, ocasião que aproveitamos para todos guiarem todas as motos. Considerações positivas quanto à Ninja, sobretudo potência e estabilidade em curva, não tanto quanto à BMW ainda sem o sistema Paralever, cujas reacções do veio de transmissão nos pregou alguns sustos. A F2 comportava-se à altura, embora o Roel tenha detectado alguma perda de potência.
À noite, após termos lavado as motos com produtos Blu-Ray, nesta altura já bem conhecidos nestas paragens, foi a vez de participarmos num assado nocturno ao ar livre, possível de praticar com o tempo seco apenas em certas alturas do ano. Antes teve lugar uma “peladinha” Portugal-Holanda, infelizmente favorável aos donos da casa. Foi a noite das histórias de viagem “até às tantas”.
Aproveitamos a manhã para, após um belo trajecto de barco pelo rio Maas que passou perto da “aldeia dos macacos”, designação dada pelos locais ao edifício onde foi assinado o célebre Tratado de Maastricht. Depois aportamos perto das grutas de St. Pietersberg, famosas por terem servido de refúgio da população da cidade durante os bombardeamentos alemães da Segunda Guerra.
Distribuíram lanternas a quase todos os visitantes, disseram-nos para nos agasalharmos, descemos alguns degraus e pudemos depois apreciar as marcas do tráfego de camiões, ainda visíveis nas paredes da gruta, bem como frescos (razoavelmente conservados à temperatura ambiente do lugar, 5º) com temas religiosos numa grande nave que servia de igreja.
Durante a tarde conhecemos o centro urbano e as muralhas de Maastricht e com a aproximação da noite foi a vez de visitarmos os inúmeros bares da praça central da cidade, onde é possível estar a noite inteira com um copo na mão, entre duas cerveja se uma água com gás.
Acabamos a noite já na Bélgica – a fronteira com a Holanda estava assinalada apenas com um velho marco quilométrico – a apreciar as diferentes cervejas belgas, misturadas com rum, cherry, etc. Nesta noite, foram elas que conduziram, uma vez que por lá, a condução sob o efeito do álcool é levado a sério.

FRANKFURT-LAUSANNE, UM DIA DE CÃO

Depois de uma noite bem dormida e de um belo pequeno-almoço – compota, fruta, queijo, cereais, nunca falham – eis-nos próximo da fronteira que dá acesso à cidade alemã de Aachen, sempre acompanhados pelos nossos amigos holandeses. “Boa viagem, guiem com cuidado e tot wolgn jaar”!

Chegados à Alemanha, entramos imediatamente na auto-estrada que dá acesso a Frankfurt. A etapa deste dia esperava-se longa, até Lausanne. Contaria com cerca de 800 quilómetros. Por isso, era preciso não demorar muito nos reabastecimentos, bem como no almoço.

Talvez por isso, a paragem na área de serviço foi apressada. Uma distração momentânea encheu o depósito da Honda com gasolina sem chumbo. “Bom, não deve haver problema”, pensei preocupado mais com a rapidez da paragem do que com as consequências daquele engano, que não seria o único nesta manhã.
Com o tráfego fluido e três faixas de rodagem à frente das rodas, quando a Honda pôs os “cavalinhos no chão, eu puxei-lhe as rédeas”. Tomei a dianteira e tudo correu bem até ao malvado desvio para Frankfurt-Mainz. Foi aí que errei. É que as auto-estradas alemãs têm diversas alternativas de saída, que permitem paralelamente desviar para as nacionais, mas que também possibilitam o regresso o regresso ao sentido inicial.

Só que findo o último desvio, já não há hipótese de, se ter de muitos quilómetros, retomar a direcção inicial. O que aconteceu foi simplesmente um desvio de quarenta quilómetros para leste, quando o nosso destino era sul. Eu virei, mas a GPZ e o Uno seguiram em frente. Entramos perdidos em Koblenz. Só depois de algumas perguntas, percebemos que estávamos errantes e fomos obrigados a voltar para trás. Só ao cabo de uma hora conseguimos regressar ao trajecto correcto. Dos outros, nem sombra.

Entretanto, o céu toldara-se e a chuva não se fez esperar, obrigando-nos a vestir os fatos de chuva e a reduzir a velocidade. Até ali, viajávamos na faixa central da auto-estrada a cerca de 140 km/h, uma média baixíssima tendo em conta que, quer carros quer motos, passavam por nós e rapidamente os deixávamos de ver.
A questão estava agora em encontrar a GPZ, e sobretudo o Uno, uma vez que na bagageira deste viajavam a nossa tenda e os sacos-cama. Começamos a entrar em todas as áreas de abastecimento, mas nada. E, de repente, percorridos 180 quilómetros desde o último reabastecimento, eis eu a Honda começa a “gaguejar”. “”Água nas velas? talvez. É capaz de secar” Não, era a passagem para a reserva. “Estranho. Já?”.

Apesar de miudinha, a chuva persistia mas, ao cabo de alguns minutos, aumentava de intensidade. Mais 50 quilómetros percorridos e o motor “calou-se”. “E, agora, o que será? Gasolina?”. Parei (em plena auto-estrada). Abri o depósito e verifiquei que não tinha gasolina. “A gasolina sem chumbo…”, pensei.

Apesar de não sentir qualquer perda de potência, o consumo tinha sido desmedido. Habitualmente a moto ia até à reserva após ter feito mais de 200 quilómetros. Depois, ainda percorria mais de cinquenta. Ou seja, um depósito era suficiente para ir de Queluz a Badajoz pela estrada nacional, e só passava para a reserva perto da fronteira.

Agora, porém, estávamos parados na auto-estrada sem gasolina. Restavam provavelmente algumas gotas, as necessárias para pôr o motor a trabalhar e ganhar algum espaço até aquela inclinação que se estendia estrada fora… e foi esse ligeiro pendor que, durante quilómetros, levou a Honda “à vela” até ao fim da descida… onde havia um posto de combustível!
Com a noite por companhia e sem vestígios da GPZ e do Uno, (bem como da tenda e dos sacos-cama), entrámos em França e procuramos um hotel perto de Mulhouse. Mais uma vez, a França “deitava-se cede” e, só ao cabo de uma hora, conseguimos encontrar um Climat de France, onde ceámos e dormimos.


Antes, porém, parar em cruzamentos e não ver vivalma foi uma decepção constante. Ainda não eram dez horas da noite, estava relativamente claro, mas não havia trânsito. Alcançamos o hotel após termos perguntado o caminho a um automobilista parado num semáforo.

Belo dia, não haja dúvida!!